Uili Bergamini, o senhor das letras


Por Laudir Dutra
ENTREVISTA – Acabou a 31ª Feira do livro de Caxias do Sul para o grande público, mas para aqueles que perseguem nas entrelinhas da história a palavra escrita e falada e basicamente, a interação com o seu público leitor, ainda está longe de acabar.
Nessa edição da feira teve de tudo, controvérsias, impasses, inovações, manifestações, claro, muita chuva, leitura, contação de histórias e no final um tímido abraço à praça Dante. Uili Bergamini, o patrono escolhido para este ano deixou a sua marca com enfrentamentos fortes e posicionamentos que vão além da sua capacidade de interação e prostração diante do público leitor, especialmente das crianças, que no seu entendimento, são aqueles que mais dão retorno imediato sobre um trabalho desenvolvido. Depois de percorrer diversos municípios como convidado para ser o patrão das letras, inspirar gerações e até mesmo para divulgar seu trabalho que já está consolidado e conhecido, Uili ganha de presente o reconhecimento da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul que o chama para ser o Patrono da 31ª Feira do Livro da cidade. A que se deve tanta confiança?
“Acho que abri o leque, isso talvez tenha sido a razão de ser solicitado por diversos municípios e agora por Caxias. Tenho uma interlocução legal com a garotada e como a leitura tem na sua base a criança, isso acaba sendo um diferencial.
O mais importante é a linguagem certa para cada idade. Procuro desenvolver isso de uma maneira que eles entendam”.

– Ser o Patrono.

Caxias é a segunda maior feira do livro do Estado, tem importância nacional e temos aqui gente muito boa escrevendo e desenvolvendo trabalhos maravilhosos.
Antes de ser uma homenagem, é uma responsabilidade, por isso procurei estar presente o máximo de tempo possível, fazendo este meio campo entre o escrito e o leitor. Sou o Embaixador do livro. Nós patronos trabalhamos de forma gratuita, voluntária mesmo em cima da responsabilidade a nós delegada”.

– Livros.

“De uns dois anos para cá, tive que tirar uma licença do meu trabalho como servidor para cuidar da minha essência que são os livros. Tenho me dedicado muito, já tenho doze (12) livros publicados , um leque grande de opções foi aberto. Sou professor, palestrante, além de inúmeras feiras do livro espalhadas por todas as regiões do estado. No meio literário sou bastante conhecido graças a Deus, seja em qual for o lugar que meu nome for citado, dificilmente alguém não saberá de quem se trata”.

– As mazelas da profissão.

“Injustiças existem em todos os lugares e segmentos nesse país. Às vezes por falta de oportunidade, outros por desconsideração mesmo. No meio literário não é diferente, mas não podemos desistir.
O mais difícil não é publicar um livro, qualquer pessoa pode escrever e se credenciar às leis de incentivos ou até mesmo tirar dinheiro do próprio bolso, mas colocar o trabalho na roda, fazer com que ele seja lido é bem complicado. Tudo em função de uma engrenagem falha. Falta o trabalho do agente literário, aquele que leva a obra para todos os cantos, divulgando e ‘vendendo’ a idéia realizada. Isso acaba deixando milhares de escritores sem o respaldo e o feedback do leitor. Sem avaliação não tem como o autor traçar o seu rumo sobre qual o próximo trabalho ou mesmo avaliação desse em voga”.

– Emergentes.

“Num país como o nosso que privilegia a celebridade, falta investir muito na valorização do escritor para que ele possa virar celebridade e não o contrário. Isso me entristece muito. O marketing pode tornar um escritor com uma obra consagrado, sem esse mesmo marketing, um escritor com muitas obras não decola.
E também tem a questão de sermos engolidos pelos enlatados norte-americanos que já vêm com tudo isso que falei acima, têm um agente literário que coloca previamente todo o produto na roda com contatos e pela grife, mais especificamente por ser estrangeiro. Ainda estamos num patamar bem abaixo em se tratando de valorização de nossos talentos”.

– Feira do Livro de Caxias.


“Sempre será uma experiência gratificante, pois aqui passaram muitos escritores renomados. É diferente de outras feiras onde vou como protagonista, para passar a minha experiência, aqui aprendi muito, agreguei muitos conhecimentos. Saio melhor da patronagem. Estar inserido em uma cidade de meio milhão de habitantes é uma façanha.
Ganhei muitos amigos, presentes, incentivo, cartões, relíquias que guardarei para toda a vida. Saio fortalecido justamente por tudo isso. Recebi muitos amigos, caíram muitas máscaras. Acabei fazendo uma limpeza em minha vida, consolidei coisas, especialmente por essas amizades consolidadas, algo que nunca tinha experimentado na vida. Pretendo continuar participando das feiras do livro, seja de que maneira for”.

– Troca de local.


“Quem realmente ama o livro vai até onde a feira estiver. Estou feliz por ter sido patrono da Feira do Livro na Praça pela minha história e pelo simbolismo que ela tem, mas entendo que outras coisas precisam ser experimentadas. Acredito que uma experiência nova deva ser tentada. Não há problema algum de retornar e recomeçar do zero, faz parte de todos os processos.
Tenho uma memória afetiva na praça, mas devemos olhara para a frente, a cidade de Caxias do Sul não é a mesma de 30 anos atrás, seu desenvolvimento é muito grande e algumas coisas já não comportam mais. Logicamente que isso precisa ser bem trabalhado, desenvolver projetos e apresentar á comunidade para que ela abrace a idéia. É compreensível o lado dos livreiros, mas não podemos ficar pensando apenas nos nossos interesses, é preciso avançar e discutir alternativas viáveis para a cidade”.

– Capital Brasileira da Cultura.

“Acredito que avançamos muito e hoje somos muito mais culturais do que em 2008. Temos uma idéia consolidada e que nenhum entrave, crise e coisas do gênero tenham atrapalhado.
Na feira que ora se encerra, trabalhamos a estrutura e a grandeza com poucos recursos financeiros. Não só reafirmamos como investimos na convicção de que seria possível realizar e realizamos. O resultado por si só foi um sucesso sem dúvida alguma. Apesar do tempo que prejudicou muito a realização da feira, com chuvas praticamente durante todo o evento, podemos atribuir a um resultado positivo a sua realização, uma vez que praticamente todas as feiras espalhadas pelo RS foram canceladas em função da escassez de recursos”.
Foto Laudir Dutra

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